As pequenas Margaridas

Ansiei muito para ver esse filme, as imagens sempre fizeram meus olhos brilharem, e com certeza algo a mais poderia ser tirado desse filme considerando o contexto da New Wave Tcheca. Esse movimento da antiga República Tcheca (Tchecoslováquia) introduz o mundo surrealista em uma nova forma de fazer cinema para criticar a política comunista que dominava a época.

As pequenas Margaridas (Daisies) é um filme cômico, visualmente lindo e inovador. A história das duas Marias, podendo ser consideradas como um mesmo personagem ou uma mesma Persona, começa quando percebem que o mundo está “depravado” e decidem se depravar também. Elas o fazem de maneira infantil, saindo com homens mais velhos e ricos, não procurando emprego ou lugar pra morar, vivendo a vida de forma anárquica e aleatória. Várias cenas que podem parecer não fazer sentido sempre mostram essas personagens destruindo tudo; seu próprio quarto, roupas, até mesmo cortam com tesouras alimentos no formato fálico, englobando o feminismo no enredo.

A grande questão desse personagem duplicado é: existe espaço para futilidades em um mundo que procura igualdade total entre as pessoas? É possível coexistir banalidades, exageros e ambições num mundo socialista? É claro que seria complicado responder, e o capitalismo fervoroso também não seria a melhor resposta. Ao final, mais perguntas surgem; trabalhar pra quê? Se submeter a um sistema em nome de quê? Por que se indignar com algumas saladas pisoteadas? Não há uma resposta definitiva. O filme me fez lembrar muito dos movimentos fashionistas dos anos 60, maquiagem com delineadores, vestidos curtos e estampas de bolinhas com ótima escolha no contraste das cores. Os sons dos movimentos, e até mesmo sons aleatórios, relembram desenhos animados no estilo Tom e Jerry, tudo parece um grande aglomerado de fotos de revistas de moda costuradas por algumas ideias subliminares.